O homem que se recusou a matar o marido de Dilma

Ex-marido, companheiro de militância política e
pai da filha da presidenta Dilma Rousseff, o advogado
Carlos Araújo depõe, em 1970, acusado de subversão
No dia 12 de agosto de 1970, o advogado Carlos Franklin Paixão de Araújo imaginou um plano para pôr fim ao suplício da tortura a qual era submetido por agentes do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) paulista. Ex-marido de Dilma Rousseff e seu companheiro de militância no grupo de esquerda Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares), Araújo inventou para seus algozes que tinha um encontro marcado no dia seguinte com o legendário Carlos Lamarca, o militante mais procurado pela repressão militar. O “ponto” supostamente aconteceria na rua Clélia, no bairro paulistano da Lapa. Com um fluxo intenso de ônibus e caminhões, a via lhe parecia um endereço adequado para tentar o suicídio, atirando-se contra um veículo de grande porte. Levado até lá, Araújo titubeou por um momento e se jogou embaixo de uma Kombi verde. Sofreu ferimentos nas pernas e na cabeça e acabou levado para o Hospital das Clínicas, em Pinheiros. Até a última semana, Carlos Araújo não sabia que quem guiava aquele carro era Darcy da Rocha Camargo. Muito menos tinha conhecimento de que o motorista da Kombi, hoje aposentado, 79 anos, havia salvado a sua vida, recusando-se a cumprir a ordem de um dos agentes do DOPS que conduziam a operação: “Dê a ré e termine o serviço para nós”, comandou o policial. Darcy respondeu que não queria matar ninguém.

No dia 12 de agosto de 1970, o advogado Carlos Franklin Paixão de Araújo imaginou um plano para pôr fim ao suplício da tortura a qual era submetido por agentes do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) paulista. Ex-marido de Dilma Rousseff e seu companheiro de militância no grupo de esquerda Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares), Araújo inventou para seus algozes que tinha um encontro marcado no dia seguinte com o legendário Carlos Lamarca, o militante mais procurado pela repressão militar. O “ponto” supostamente aconteceria na rua Clélia, no bairro paulistano da Lapa. Com um fluxo intenso de ônibus e caminhões, a via lhe parecia um endereço adequado para tentar o suicídio, atirando-se contra um veículo de grande porte. Levado até lá, Araújo titubeou por um momento e se jogou embaixo de uma Kombi verde. Sofreu ferimentos nas pernas e na cabeça e acabou levado para o Hospital das Clínicas, em Pinheiros. Até a última semana, Carlos Araújo não sabia que quem guiava aquele carro era Darcy da Rocha Camargo. Muito menos tinha conhecimento de que o motorista da Kombi, hoje aposentado, 79 anos, havia salvado a sua vida, recusando-se a cumprir a ordem de um dos agentes do DOPS que conduziam a operação: “Dê a ré e termine o serviço para nós”, comandou o policial. Darcy respondeu que não queria matar ninguém.

Abreviar a vida era mesmo a ideia inicial do dirigente do grupo de esquerda, mas a Kombi acabou sendo uma espécie de plano alternativo em meio ao desespero. Carlos Araújo havia sido preso um dia antes cerca de 7h30 da manhã perto do estádio do Palmeiras. Caiu nas garras da equipe do truculento delegado do DOPS Sérgio Paranhos Fleury quando se dirigia ao encontro de um colega de outra organização. As sessões de tortura começaram ainda na viatura e se estenderam por todo o dia nas dependências do órgão de repressão. Entre outras técnicas, o ex-marido da presidenta Dilma Rousseff foi submetido a choques. “Eu morava com um colega que estava viajando e só voltava em três dias. Precisava de tempo para ele não ser pego também”, explica. Ao ver que não conseguiria passar por aquelas sessões sem dar informações sobre companheiros, preferiu se suicidar. “Me matar era a única coisa digna fazer”, relata. “Na hora, eu vacilei. Resolvi me atirar embaixo de um carro, talvez não morresse e ficasse só bastante machucado para ter de ir ao hospital”, recorda.
A escolha desesperada de Carlos Araújo coincide com os relatos de outros ocupantes da Kombi ouvidos por ISTOÉ. No mesmo momento em que ele se atirou em direção ao veículo com um grito de desespero, havia ônibus tanto na frente como atrás do carro na movimentada via. Depois do incidente, aliás, foi uma questão de segundos até que agentes do DOPS se aproximassem, ordenando que ninguém descesse do carro. Dois deles apreenderam documentos de parte dos integrantes do veículo, outro sugeriu a Darcy que matasse Araújo. O não lacônico, de quem temia aqueles guardas, mas considerava ainda mais inadmissível matar um ser humano, foi o suficiente para que os policiais se fizessem de desentendidos e jogassem Araújo ferido dentro de uma viatura. “Pegaram ele pelas pernas e arremessaram dentro da viatura, como quem joga um saco de batata”, conta Darcy. “Fiquei pensando se tinha matado o homem.”
O alívio, porém, só veio ao chegar às dependências do DOPS para buscar os documentos apreendidos. “Ali me falaram que ele tinha quebrado as duas pernas, mas estava bem”, recorda. Foi lá também que soube que se tratava de um advogado, preso “como terrorista”. Em meio às informações, gravou o “Paixão” do sobrenome do homem. Graças a esta informação, Darcy pôde acompanhar de longe a trajetória daquele personagem que entrou por acaso em sua vida. Em uma reportagem do jornal “O Estado de S.Paulo”, de outubro de 1970, ele viu, por exemplo, o rosto de Araújo pela primeira vez. A foto estava estampada em uma página da publicação que relatava o desmantelamento do braço paulista do grupo esquerdista VAR-Palmares.
Por causa do acidente com a Kombi e da recusa do motorista Darcy em dar a ré, o militante Carlos Araújo conseguiu escapar daquilo que mais temia: dar informações que pudessem colocar em perigo seus companheiros de militância. Encaminhado para o Hospital das Clínicas e depois levado ao Hospital Militar, ele contou com a proteção de freiras, que fizeram um escândalo quando tentaram torturá-lo ainda nos primeiros dias de internação. Depois, como diz, com o passar do tempo já não era um preso tão interessante para os agentes da repressão. Nem por isso, porém, passou ileso a outras amostras das truculências do regime ditatorial brasileiro. Condenado, cumpriu cerca de quatro anos de prisão. No período de cárcere oficializou o relacionamento com a agora presidenta Dilma Rousseff. O romance tinha começado ainda na clandestinidade – antes de ambos serem presos. Com a redemocratização, elegeu-se três vezes deputado estadual pelo PDT gaúcho. Hoje, aos 75 anos é avô, advoga, milita politicamente e exerce a distância uma posição de conselheiro da ex-mulher.
Fonte: Bocão News / Fotos: Pedro Dias e Jefferson Bernardes/Preview.com
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